Pensamentos de Fernando Pessoa

Deus ao mar o perigo e o abismo deu

Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

Circunda-te de rosas

Circunda-te de rosas, ama, bebe e cala. O mais é nada.

Meu coração é um balde despejado

Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada

Não sou nada

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Quando o amor não tem razão É que o amor incomoda

Quando o amor não tem razão
É que o amor incomoda.

Haja ou não deuses

Haja ou não deuses, deles somos servos.

Eu sou aquilo que perdi

Eu sou aquilo que perdi.

Porque é que para ser feliz é preciso não saber

Porque é que para ser feliz é preciso não saber?

Para ser grande

Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.

Outrora eu era daqui

Outrora eu era daqui, e hoje regresso estrangeiro,
Forasteiro do que vejo e ouço, velho de mim.
Já vi tudo, ainda o que nunca vi, nem o que nunca verei.
Eu reinei no que nunca fui.

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Feche a porta

Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira. Deixe de ser quem era, e se transforme em quem é.

Quero para mim o espírito desta frase

Quero para mim o espírito desta frase, transformada a forma para a casar com o que eu sou: Viver não é necessário; o que é necessário é criar.

A ciência descreve as coisas como são

A ciência descreve as coisas como são; a arte, como são sentidas, como se sente que são.

Tudo é incerto e derradeiro

Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro

O mais alto de nós não é mais

O mais alto de nós não é mais que um conhecedor mais próximo do oco e do incerto de tudo.