A canção do africano

A canção do africano
Lá na úmida senzala,
Sentado na estreita sala,
Junto ao braseiro, no chão,
Entoa o escravo o seu canto,
E ao cantar correm-lhe em pranto
Saudades do seu torrão…
De um lado, uma negra escrava
Os olhos no filho crava,
Que tem no colo a embalar…
E à meia voz lá responde
Ao canto, e o filhinho esconde,
Talvez pra não o escutar!
"Minha terra é lá bem longe,
Das bandas de onde o sol vem;
Esta terra é mais bonita,
Mas à outra eu quero bem!
"0 sol faz lá tudo em fogo,
Faz em brasa toda a areia;
Ninguém sabe como é belo
Ver de tarde a papa-ceia!
"Aquelas terras tão grandes,
Tão compridas como o mar,
Com suas poucas palmeiras
Dão vontade de pensar…
"Lá todos vivem felizes,
Todos dançam no terreiro;
A gente lá não se vende
Como aqui, só por dinheiro".
O escravo calou a fala,
Porque na úmida sala
O fogo estava a apagar;
E a escrava acabou seu canto,
Pra não acordar com o pranto
O seu filhinho a sonhar!

O escravo então foi deitar-se,
Pois tinha de levantar-se
Bem antes do sol nascer,
E se tardasse, coitado,
Teria de ser surrado,
Pois bastava escravo ser.
E a cativa desgraçada
Deita seu filho, calada,
E põe-se triste a beijá-lo,
Talvez temendo que o dono
Não viesse, em meio do sono,
De seus braços arrancá-lo!

#poemas#castroalves#castro#alves#seculo#xix 262

Mensagens Relacionadas

Tudo é uma charada, e a chave para uma charada … é outra charada.

Tudo é uma charada, e a chave para uma charada … é outra charada.

Tudo é uma charada, e a chave para uma charada… é outra charada.
Trad. "All is a riddle, and the key to a riddle… is another riddle"

#xix#poemas#ralphwaldoemerson#seculo
A palavra morre Quando é dita

A palavra morre Quando é dita

A palavra morre
Quando é dita,
Alguém diz.
Eu digo que ela começa
A viver
Naquele dia.

#poemas#emilydickinson#seculo#vida#xix

I'm nobody! Who are you? Are you nobody, too? Then there's a pair of us — don't tell! They'd banish us, you know.

I'm nobody! Who are you?
Are you nobody, too?
Then there's a pair of us — don't tell!
They'd banish us, you know.
How dreary to be somebody!
How public, like a frog
(…Continue Lendo…)

#xix#emilydickinson#seculo#poemas

Quando ouvi o astrônomo erudito

Quando ouvi o astrônomo erudito
Quando ouvi o astrônomo erudito,
Quando as provas, os números foram enfileirados diante de mim,
Quando me foram mostrados os mapas e diagramas a somar…

(…Continue Lendo…)

#xix#seculo#waltwhitman#poemas

PORQUE MENTIAS?

PORQUE MENTIAS?
Por que mentias leviana e bela?
Se minha face pálida sentias
Queimada pela febre, e se minha vida
Tu vias desmaiar, por que mentias?
Acordei da ilusão, a …

(…Continue Lendo…)

#seculo#xix#poemas#alvaresdeazevedo
Eu me contradigo

Eu me contradigo

Eu me contradigo? Pois muito bem, eu me contradigo. Sou amplo, contenho multidões.

#seculo#poemas#waltwhitman#xix