Versos Pessoa Doente

As lentas nuvens fazem sono

As lentas nuvens fazem sono
As lentas nuvens fazem sono,
O céu azul faz bom dormir.
Bóio, num íntimo abandono,
À tona de me não sentir.
E é suave, como um correr de água,…

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Dorme enquanto eu velo… Deixa-me sonhar… Nada em mim é risonho. Quero-te para sonho, Não para te amar.

Dorme enquanto eu velo…
Deixa-me sonhar…
Nada em mim é risonho.
Quero-te para sonho,
Não para te amar.
A tua carne calma
É fria em meu querer.
Os meus desejos…

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Falar é ter demasiada consideração pelos outros

Falar é ter demasiada consideração pelos outros. Pela boca morrem o peixe e Oscar Wilde.

Não sou nada

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Matar o sonho é matarmo-nos

Matar o sonho é matarmo-nos. É mutilar a nossa alma. O sonho é o que temos de realmente nosso, de impenetravelmente e inexpugnavelmente nosso.

Bendito seja eu por tudo o que não

Bendito seja eu por tudo o que não sei
gozo tudo isso como quem sabe que há o sol

Considerar a nossa maior angústia como um incidente sem importância

Considerar a nossa maior angústia como um incidente sem importância, não só na vida do universo mas da nossa mesma alma, é o princípio da sabedoria.

Baste a quem baste o que lhe basta

Baste a quem baste o que lhe basta
O bastante de lhe bastar!
A vida é breve, a alma é vasta;
Ter é tardar.

Não sei quantas almas tenho

Não sei quantas almas tenho
Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem achei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem…

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Tudo vale a pena quando a alma não é pequena

Tudo vale a pena quando a alma não é pequena.

Não importa se a estação do ano muda

Não importa se a estação do ano muda…
Se o século vira, se o milénio é outro.
Se a idade aumenta…
Conserva a vontade de viver,
Não se chega a parte alguma sem ela.

Chove

Chove. Que fiz eu da vida?
Fiz o que ela fez de mim…
De pensada, mal vivida…
Triste de quem é assim!

Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir

Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir. O que confesso não tem importância, pois nada tem importância. Faço paisagens com o que sinto.

Outras vezes oiço passar o vento

Outras vezes oiço passar o vento,
E acho que só para ouvir passar o vento vale a pena ter nascido.

Encontrei hoje em ruas

Encontrei hoje em ruas, separadamente, dois amigos meus que se haviam zangado . Cada um me contou a narrativa de por que se haviam zangado. Cada um me disse a verdade. Cada um me contou as suas razões…

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