Quis ser perfeito. Desfolhei o mundo procurei palavras de ninar a chuva.

Quis ser perfeito.
Desfolhei o mundo
procurei palavras
de ninar a chuva.
Esqueci
que os perfeitos
não sabem amar.
O amor é uma falha.
Carece da imperfeição.
Pensei no infinito.
Enquanto o amor é o erro.
Precisavas do mar
sobre a cabeça
e o céu sob os pés.
Deixei de ser mortiço
costurei eternidades
sem transparecer defeitos.
Esqueci
que o eterno é o terno:
um simples e breve
momento em coisa certa.
Recolhi teus suspiros
acolhi cada beijo
povoei-te toda brisa
e tu só repaginavas
a ternura mórbida
que molestava o tempo.
Achei que fosse assim
Que o amor fosse leve
Que o amor fosse neve
o frio sedutor na janela
o desabrochar das rosas no verão
a cinemática da poesia
o verso, a prosa, a caligrafia
Lembrei-me tanto de ti
Dei-te asas de aço
Dei-te auroras e sonhos
Oh! Dei-te a mim, nefasto
Falei-te tanta palavra de amor
Ao ponto
de esquecer de te amar.